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Materialismo é ruim mesmo?

O que vem à sua mente quando você se depara com o termo "materialismo"?

É um termo naturalmente ruim para você? Remete a uma qualidade ou a um defeito? Ou é neutro?

Hoje quero conversar sobre um novo olhar sobre as coisas materiais e a importância que depositamos nelas.


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Photo by Erol Ahmed on Unsplash

Eu sempre me encaixei no lado "materialista". Mesmo sabendo que a maioria das pessoas considera isso ruim, eu sabia o quanto tinha sentimentos por determinados objetos e que isso não ia mudar. Aceitei o meu "defeito" e segui em frente, cada um tem suas sombras pra lidar. E foi assim que eu me relacionei com esse assunto, até me deparar com o conceito japonês "Yaoyorozu no kami". A tradução para esse termo é "800 mil deuses" e representa a crença que os japoneses tinham de que essa quantidade enorme de deuses residia no mundo, não só nos fenômenos da natureza (como muitas religiões acreditam), mas também em cada objeto


Tive contato com essa ideia ao terminar de ler o segundo livro da Marie Kondo: Isso me traz alegria. Kondo é uma organizadora profissional que ficou mundialmente famosa por seus livros, e agora também seu programa na Netflix. Por ser japonesa, é óbvio que muito da visão de sua própria cultura influencia seu método de organização, por isso algumas de suas técnicas são consideradas muito inovadoras para quem vive no Ocidente. Mas é a essência do método, o cerne que a maioria das pessoas (incluindo eu mesma, antes de ler essa segunda obra da autora) parece não ter entendido. 


Na série produzida pela Netflix, podemos ver a organizadora profissional fazendo um ato de agradecimento em cada casa que ela visita. E ela, literalmente, agradece à casa, pede licença à casa e em alguns episódios explica para a casa o que eles irão fazer ali. É uma forma diferente, e muito respeitosa, de iniciar uma organização. Voltando ao livro, ao citar o conceito de "Yaoyorozu no kami", a autora está trazendo um exemplo muito importante de relação entre humanos e objetos que ela aplica na sua forma de trabalhar a organização. Os japoneses costumam tratar tudo com reverência e respeito, e isso é compreensível quando tomamos conhecimento sobre essa crença de que cada objeto é a morada de um deus, cada objeto tem sua alma.



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Photo by Hutomo Abrianto on Unsplash

Quando aparece uma especialista em organização dando dicas para se desfazer do que não te traz alegria, não é sobre simplesmente eliminar o excesso de objetos e viver com o mínimo. É sobre você apenas manter os objetos que têm significado para você. E foi quando caiu essa ficha que eu entendi o verdadeiro significado de materialismo. Sentir gratidão por um objeto não é algo errado, faz parte da relação que eu construí com ele. 

Poder expressar essa minha característica com palavras tão objetivas e tirando a conotação negativa que o Ocidente como um todo coloca sobre o tema é muito importante para mim. Antes eu não saberia como explicar que eu amo o meu edredom branquinho e macio. Hoje eu entendo que não teria como não amá-lo: ele me protege do frio, tem um toque gostoso que me faz ter uma noite tranquila e é bonito. É daí que vem a minha necessidade de tratar com carinho o que eu tenho, o que eu conquistei, o que eu trabalhei para construir. Quando você está cercado por uma quantidade imensa de objetos vazios de significado, que ficaram amontoados porque "vai que um dia eu precise", é difícil mesmo entender essa ligação que algumas pessoas - e algumas culturas - têm com seus pertences. É difícil tratar algo como especial quando você possui muito, que pode ser rapidamente substituído.


O irônico é justamente perceber como aquilo a cultura capitalista me disse que era materialismo, na verdade é uma chave importante para que eu passe a consumir de forma mais consciente, já que agora eu entendo o que faz valer a pena levar algo para casa, e me tornei muito mais seletiva (e feliz!). Em seu livro, Marie Kondo fala sobre "a essência das coisas e a nossa capacidade de sentir essa essência". Materialismo para mim é isso. Me relacionar de forma sensível com o que eu possuo, sendo grata por tudo o que cada objeto me proporciona e tratando todos os objetos que me servem com respeito.


E você já parou para pensar o quanto é importante cada objeto que você possui? Já fez uma revisão sincera  sobre a necessidade de determinadas coisas? Como é possível expressar gratidão por algo se você nunca observou o quanto aquilo é importante no seu dia a dia?


Revisão de texto: Tayná Miessa (obrigada pela ajuda ♥)


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