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Diário GraviTefi | 13 a 19 semanas

Meu último post foi na 12ª semana de gestação. De lá pra cá o baby passou de um cupcake para o tamanho de uma manga, meus enjoos pioraram muito, eu emagreci mais e tive que fazer repouso total. Se eu não tinha condições nem de vir aqui escrever imaginem o estado do restante da minha vida - spoiler: tá um caos.


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Hoje completei 19 semanas e finalmente estou melhor pra voltar aqui e dividir um pouco sobre como foram essas últimas semanas pra mim. Mas a verdade é que nem sei como falar sobre isso, porque foram traumatizantes. Tiveram algumas coisas boas? Sim, mas a minha situação me impedia até de me sentir feliz, de sair da cama, de casa, de comer. Eu inclusive vou fazer um post a parte falando sobre bebê mexendo, escolha do nome e outras coisas que "deveriam" ter me deixado feliz, no momento em que me sentir bem pra isso. Enfim, até aqui eu não tive a gestação mais fácil, e acho importante falar sobre isso, falar a verdade, quebrar essa expectativa romântica sobre como é mágico gestar outra vida. Ás vezes não é. E precisamos dar voz pra essas histórias também.


O que eu mais ouvi nesse período foi que "enjoos são normais", "logo vai passar", "é só no primeiro trimestre". Nada disso foi real pra mim. O enjoo que eu tive não foi normal, pois me impedia de fazer qualquer atividade do meu dia - trabalhar, estudar, cozinhar, comer, até levantar da cama. Também não passou rápido e nem acabou no primeiro trimestre. Eu cheguei no 5º mês de gestação e continuei passando muito mal.


Mulher negra deitada numa cama, com semblante triste
Photo by Ashley Byrd on Unsplash

Fui atrás de informações e descobri que existe uma doença chamada hiperêmese gravídica. A Karol Pinheiro tem um vídeo muito informativo sobre o assunto relatando a experiência dela. Tudo que eu estava passando se encaixava nos sintomas. Bom, eu infelizmente não cheguei a ser diagnosticada, mas sabia que o que estava acontecendo comigo não era normal. Gestações comuns não impedem que você trabalhe, mesmo que a gestante sinta enjoos e náuseas, não são tão insuportáveis a ponto deixá-la de cama por quase 4 meses. A maioria das gestantes continua trabalhando e vivendo suas vidas até as últimas semanas.


Estar nessa situação foi muito vulnerável, solitário, desesperador. Eu chorava quase todos os dias, eu sentia fome o tempo todo e não conseguia comer. Quando conseguia, o pouco que comia acabava vomitando. Mesmo tomando remédio para enjoo, mesmo repondo vitaminas, mesmo seguindo todas as dicas da nutricionista. Eu queria voltar a trabalhar porque nossa situação financeira não está fácil. Eu cheguei a repensar meu plano de parto porque senti medo de passar mal a gestação inteira, e nesse caso eu não teria condições de ter um parto normal, que sempre foi minha prioridade - mais tarde vou fazer um post só sobre esse assunto - eu entrei em um desespero tão grande que falei pra obstetra que queria cesárea - nada contra quem escolhe cesárea, PARA MIM é uma opção apenas de emergência, e eu me senti todos esses meses como se estivesse nessa situação - ou seja, eu perdi a cabeça, o sono, meus planos e o controle de tudo.


Mulher negra sentada com a mão na cabeça e olhando para o chão
Photo by @byrdman85 Unsplash

Há cerca de 5 dias eu melhorei. Do nada, consegui comer maiores porções, parei de vomitar, parei de passar mal. Consegui levantar, consegui fazer atividades simples em casa. Não sei se isso significa que não vou mais passar mal daqui pra frente - ontem de manhã eu acabei vomitando - mas eu me senti forte o suficiente pra sentar e escrever esse relato. Espero de verdade que o pior tenha passado, espero de verdade poder ter uma gestação tranquila daqui pra frente.


Eu estou fazendo esse relato por mim, porque me faz bem poder ser sincera e tirar as coisas do peito, mas também estou fazendo por outras pessoas. Gestantes que tiveram essa doença e nunca souberam - muitos médicos não falam sobre, ou não levam a sério o suficiente -, pessoas que pretendem ter filhos e só tiveram contato com histórias perfeitas e romantizadas, pessoas que fazem parte da rede de apoio de alguém que esteja passando por isso, até profissionais da saúde, que muitas vezes não levam a sério as reclamações de gestantes e seguem achando que a gente tem que aguentar tudo. Não temos. Muitas coisas não são normais. Muitas coisas já poderiam ter soluções da medicina pra facilitar esse período. Muita informação deixa de ser passada adiante e gestantes sem acesso à internet nunca vão saber que o que estão sentindo também aconteceu com outras pessoas, que não estão sozinhas, que tem gente que se importa.


Se você está passando por uma gestação difícil, física ou emocionalmente, esse post também é pra você. A solidão é imensa, os julgamentos são insensíveis e a culpa materna é pesada, mas você não está sozinhe . Sua dor é válida, seus desabafos merecem ser ouvidos e sua gestação merece ser respeitada.


Vamos juntes ♥



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